- "Antes da Primeira Cidade, antes do meu exílio e da minha maldição, eu e meus irmãos povoávamos a terra com nossos pais. Meus irmãos, Abel e Sete, minhas irmãs, Luluwa, Avan e Azura... Isso é o que a bíblia diz, mas tivémos outros irmãos e irmãs, esquecidos pela história, condenados por pecados até maiores que o meu, pode-se dizer..."
- Caim / Primeiro Assassino / Primeiro Vampiro
O Primeiro Pecado
Arohongui, Dama da Lua, estava preparando um banquete para celebrar o retorno de seus irmãos após uma caçada bem sucedida. Tawhoa, Espírito da Floresta, entregou a ela uma dúzia de pássaros gordos para o banquete. Ela prontamente cozinhou os pássaros em um caldeirão. Vendo todos esses pássaros cozidos, fez com que o apetite de Kitava aumentasse, e ele se ofereceu para tomar conta deles ao fogo, para que a irmã pudesse descansar. Ela agradeceu pela gentileza, mas enquanto ela se deitava para descansar do calor da tarde, Kitava devorou os pássaros, da carne aos ossos, sem distinção.
Ao acordar, Arohongui estava furiosa que Kitava mentiu para ela, dizendo que tomaria conta da comida no fogo, enquanto que na verdade estava interessado apenas em comê-los. Quando Tukohama, outro dos irmãos, chegou com sua canoa após a pesca, a irmã pediu que ele punisse Kitava por sua mentira. Tukohama, mais tarde conhecido como Pai da Guerra, concordou com o pedido, pegou o grande anzol de sua vara e enquanto Arongui e Tawhoa seguravam Kitava, ele arrancou seus olhos, cegando-o. Desse dia em diante, Kitava jamais poderia prometer tomar conta de nada, e seus olhos jamais levariam adiante sua fome insaciável.
- Autor Desconhecido
O Segundo Pecado
Para substituir o banquete dos pássaros que Kitava consumira avidamente, Tukohama, nosso pai da guerra, e Valako, pai da tempestade, foram pescar. Embora Kitava fosse cego, ele ainda podia lançar sua linha e sentir quando um peixe mordia a isca. Então Tukohama e Valako o levaram com eles na poderosa canoa de Tukohama. Mas enquanto eles pescavam, Kitava ficou faminto e comeu secretamente toda a isca de larvas e vermes. Enojados e com raiva, Tukohama e Valako decidiram usar Kitava como isca. Valako usou seu próprio maxilar como gancho, empalou Kitava e lançou ambos no mar. Kitava afundou no fundo do mar, mas em vez dos peixes que comerem Kitava, foi Kitava quem comeu todos os peixes que o mordiscavam, carne, escamas, vísceras e tudo. Quando Tukohama e Valako puxaram um Kitava de barriga gorda de costas para o mar, ficaram ainda mais furiosos, e sabiam que Kitava deveria ser punido pela última vez.
- Autor Desconhecido
O Terceiro Pecado
Tukohama, nosso pai da guerra, e Valako, pai da tempestade, levaram Kitava para Hinekora, mãe da morte. Pediram-lhe que matasse o ganancioso Kitava, pois certamente sua tribo passaria fome se Kitava continuasse a viver entre eles. Mas Hinekora recusou, pois a morte não ensinaria a Kitava a lição que ele precisava aprender. Em vez disso, Hinekora bateu Kitava com um chicote tecido de seu próprio cabelo. Para Kitava, cada fio era um chicote abrasador, e assim ele usava milhares e milhares de cílios em suas costas enquanto Hinekora o conduzia implacavelmente para o canto mais escuro do submundo. Lá, ela o deixou para sofrer, sem água ou comida, pelo resto da eternidade. E lá Kitava permaneceu, na escuridão da ilha noturna de Hinekora por tempo além da medida. Ali sofreu, esperando o dia em que pudesse voltar ao mundo da luz para saciar sua sede abrasadora e saciar sua fome arrebatadora.
- Autor Desconhecido
A Fúria Divina
Se Deus está vendo, a tortura imposta a Kitava não será perdoada, e meus irmãos pagarão. Por mais que eu negue, o resto da minha família, junto com Caim, estão condenados, e nossos pais choram lágrimas de sangue ao verem do que seus filhos foram capazes. "Onde erramos?" Eles disseram, desacreditando seus próprios olhos. Ao amanhecer, uma luz, branca e clara, descia dos céus para a terra. Enquanto a maioria da tribo Karui recuava, meus irmãos tomaram a frente. Perante seus olhos, estava Mikael, o Guerreiro de Deus, seu maior Arcanjo. Imponente de uma presença incontestável ele questionou, exigindo saber o porque da selvageria contra Kitava. Nada além de xingamentos e desculpas saiu das bocas deles. Com um grito mais alto que mil trovões o Arcanjo ordenou silêncio, e como animais acoados, meus irmãos, recuaram tal qual o resto da tribo. Mikael, como que falando pelo Pai Maior, declarou os pecados...
- Abel / O Inocente
"A Gula de Kitava, devorando a comida dos seus irmãos sem discrição...
A Avareza de Tawhoa, creditando as posses da comida em primeiro lugar, ao invés de pensar em seus irmãos...
A Luxúria de Arakaali e Valako, na cama satisfazendo prazeres carnais enquanto que deveriam preparar o banquete...
A Ira de Tukohama, impondo justiça pela fúria, mascarando seu desejo de violência com retitude de caráter...
A Inveja de Gruthkul, desejando o irmão que já pertencia a outra, satisfazendo a si mesma enquanto pensava em como toma-lo para si...
A Preguiça de Ahorongui, dormindo em meio à tarde de trabalho, enquanto deveria trabalhar junto à sua família...
O Orgulho de Hinekora, se pondo acima de seu irmão, ignorando seus próprios defeitos e prontamente julgando-o culpado e inferior, quando deveria acolhe-lo e ensina-lo."
- Arcanjo Mikael / Guerreiro de Deus / Portador da Lança Divina
Eles violaram diversas Leis Divinas e transformaram-se em abominações. Fiquei desolado enquanto até mesmo minhas duas irmãs menores também conspiravam, enquanto os outros torturavam Kitava. Parecia que eles mesmo vendo seus erros ditos, não percebiam onde erraram, e todos eles bravejaram contra o Arcanjo. O Guerreiro de Deus estava sereno e empunhou sua lança com leveza. Uma sequencia de movimentos rápidos, quase invisíveis, e ensanguentados meus irmãos caíram. Que Deus tenha misericórdia deles, pois se a ira dele for tamanha igual à brutalidade de seu Guerreiro, eles estão perdidos.
- Abel / O Inocente
A Penitência
Minha família uniu-se a mim na Umbra, lambendo feridas e amaldiçoando a Deus, como se fossem crianças mimadas. Mesmo aprisionado, Kitava gargalhava na escuridão mais profunda, enquanto eu tentava aplacar os outros. Se eu fechar meus olhos, vejo a lâmina de Caim perfurar minhas entranhas, até mesmo sinto a dor aguda perdurar. Eu não sei porque, mas essa existência Umbral nos tortura sem descanso, e eu mesmo não consigo cuidar de meus irmãos mais novos. Por semanas ouvimos as vozes, sussurrando ao nosso redor, balbucios daqueles que ficaram no material. Eu tentei avisa-los, de que os vivos não devem nos ver e ouvir, mas eles não me deram ouvidos. No entanto, as adulações dos Karui se fizeram ouvir, tratados como mártires, meus irmãos tornaram-se divinados, enquanto que o Criador foi demonizado.
Eles se lançaram nessa adulação, tornando-se exaltados, como se fossem verdadeiros Deuses. Ai, enquanto eu me afastava dessa falsa fé, eles eram tomados por deformidades e poderes profanos derivados de seus crentes. Os meus irmãos subiram na hierarquia umbral, adquiriram poderes tamanhos que os demais espíritos tremiam em suas presenças. Agora, enquanto eu busco entendimento e perdão por Caim, eles procuram vingança contra Deus, e se deliciam com os presentes dos Karui. Meus olhos serão testemunhas, e através de você Caom, eu avisarei os Karui, para que parem com essa insanidade. Que esta mensagem encontre ao povo, pela revelação da verdadeira história, que minha família seja restaurada.
- Abel / O Inocente
A Loucura
Este mundo é errado e feio, um caos imperfeito de visões tétricas, sentimentos e eventos que repelem e deprimem. No entanto, entre essa deformidade, encontrei meu sublime chamado. Este mundo pode ser abominável, mas até certo ponto, posso ser seu salvador. Eu fui presenteado com uma visão especial. Antes de mim encontra-se uma revelação, uma espécie de fato escrito com sangue em páginas de pele, músculos, tendões e órgãos. Com uma mão moderada e uma lâmina afiada, vou remodelar, remodelar e renascer este mundo. Minha obrigação é imensa, algo que, com toda probabilidade, consumirá minha vida. Eu não posso descansar! Meu chamado me energiza. Tal é a maldição e a compulsão de um líder. Farei com que Tukohama seja ouvido, trarei seus exércitos aos portões do céu.
- Kaom / Líder Karui / Profeta dos Deuses
A Distorção
Eu implorei, mas Tukohama não me ouviu, ele distorceu as mensagens, interferiu usando sua magia, transformando o meu apelo de ajuda em uma declaração de guerra. É verdade o que digo, mas essa mensagem tem de chegar aos ouvidos de todo o povo. Não é certo persistir com isso. Minha família deve ser salva, antes que seja irreversível a metamorfose que estão sofrendo na Umbra. Eu sei que parece loucura, mas Caim veio a mim, e ele disse que observou a tudo. Receio também que ele tenha a intenção de fazer justiça sangrenta contra os Karui. Por favor, Kaom, meus demais irmãos Karui, abandonem essa insanidade. Não pode ser... Tukohama está aqui, ele revelou-se sorrindo... Que troca de palavras sinistra ele usou dessa vez... Que perversidade ele criou da minha súplica por ajuda??
- Abel / O Inocente
A Família
Algum tempo após a estabilização da metamorfose de meus irmãos, Caim assegurou que era chegada a hora. Numa noite de celebração, ele adentrou a tenda de Kaom, e com rapidez e ferocidade, dizimou todos os presentes. Caim fez uma espécie de pacto, não há outra explicação para aquela aparência aterradora, mesmo que os Arcanjos e o próprio Deus tenham-no amaldiçoado, ele estava diferente, ele com certeza não era mais humano. Ele aceitou me ajudar, disse arrepender-se de seu erro, e que iria resolver tudo, porém ao meu ver tudo que ele fez foi matar e saciar sua sede de sangue, literalmente. Assim como um homem rasga um tecidod e pele de animal, Caim rasgou o véu umbral, adentrando no mesmo plano que nós, onde ele ficou cara a cara com nossos irmãos. Depois do massacre dos Karui, algo estava diferente, com seus súditos mortos, não só meus irmãos estavam enfurecidos, mas também mais fracos, tudo indica que Caim sabia que isso aconteceria. Após uma batalha monstruosa, entre os Falsos Deuses e o Assassino, um resultado chegou, Caim era mais forte, meus irmãos meramente brincavam com seus poderes, mas Caim, ele foi além disso, seu conhecimento e sua destreza eram assustadores. Ele estava sereno, apesar do olhar furioso e das presas ferais, sua feição era imparcial, neutra, quase morta. Ele bebeu do sangue de fantasmas glorificados, tal qual fez dos mortais, porém algo estava diferente, a Marca brilhava num tom verde escuro. Ele completa uma espécie de câtico, e aos poucos nossos irmãos gemem e então urram de dor, gradativamente ficando transparentes, até tornarem-se meros ecos, espíritos mais fracos que as mais recentes espectros.
- Abel / O Inocente
"Não se pode simplesmente matar esses seres, é trabalhoso, especialmente sem uma ferramenta ou método certo... Que a minha piedade hoje, não seja esquecida irmãos, torturadores de Kitava, exploradores de ignorantes... Carregarei o fardo de ser alvo da sua ira insana, mas também levarei comigo uma parte de cada um de vocês, uma grande parte... Meu irmão, não há mais o que eu lhe possa dizer, palavras que façam valer qualquer forma de perdão da sua parte, então desaparecerei na escuridão, deixando você com a certeza de que nossos irmãos não farão o que bem querem..."
- Caim / Primeiro Assassino / Primeiro Vampiro
O Legado
Kaom era o rei dos Karui, frequentemente citado por sua bravura e liderança. No massacre da tenda dos Karui, ele sobreviveu, graças a um poder que recebeu de Tukohama, a imortalidade. Os Karui seriam enaltecidos pelos Deuses mais uma vez, ele disse, e partiu para recriar seu povo. Kaom vagou e encontrou outros povos Karui, nômades, descendentes dos nossos pais e até meus e da minha esposa. A batalha dele se tornou ideológica, ele pregava sobre novos Deuses, mais generosos, e mostrava a magia que eles lhe deram. Entre esses povos ele achava Servos de Deus, mas também achava simpatizantes. Ele foi aos poucos reconstruindo os Karui e logo criou mais seitas de sua nova fé, propagando seus ensinamentos e a adulação de meus irmãos para outros cantos do mundo. Quando Caim deu por si, esses Karui já estavam tão dispersos que seria impossível eliminar a todos rapidamente, e suas preces chegavam aos meus irmãos, que apesar de fracos anteriormente, voltavam a se fortalecer.
Depois disso, entretanto, eles ainda não podiam exercer muita influência, seus presentes mágicos requeriam mais e mais oferendas, sacrifícios, até que com o passar das eras, os descendentes começaram a duvidar, surgiram novos conceitos, novas crenças. Suas histórias foram preservadas por poucos, enquanto que novos seres emergiam. Essas mudanças enfraqueceram os pesadelos nos quais meus irmãos se converteram, não estavam vivos, nem mesmo para os padrões dos mortos. Kaom tentou lutar contra isso, rezando para seus ancestrais e, eventualmente, recebeu uma visão que ele achava divina, mas na verdade era apenas uma armadilha. Ele pegou um grupo de guerreiros e marchou para florestas úmidas, erguendo pirâmides e sacrificando vidas por Tukohama. Meu irmão guerreiro tinha um plano, usaria da própria carne e espírito de Kaom, faria dele seu hospedeiro perfeito, e quando chegasse a hora, tomaria seu corpo. Ideias similares ocorreram aos demais pesadelos, e aos poucos eles começaram a esgueirar-se para fora da escuridão onde Caim os aprisionava com sua armadilha, enlouquecendo quem lhes fosse mais atrativo.
- Abel / O Inocente
Gehenna
Kitava, o Insaciável, era assim que os Karui se dirigiam ao meu pobre irmão faminto. Ele se tornou o principal foco da ira e do medo dos fanáticos, sendo o principal antagonista dessa crença doentia nos Deuses Anciões, como meus demais irmãos eram chamados. Aos olhos deles, Kitava era um deus Karui da corrupção. De acordo com a tradição passada por eles, Kitava era uma divindade canibal com fome sem limites. Ele tria o poder de consumir e corromper as almas das pessoas, como teria feito com todos os deuses, atiçando uma fúria que viria a atrair a ira do Criador. Como os outros deuses, no entanto, com sua prisão no umbral, novas habilidades se manifestavam em Kitava, uma nova fase de uma evolução sinistra, movida a solidão, ódio e fome.
Kitava causava grande desconforto em meus irmãos, principalmente Hinekora. A prisão de pedra enfeitiçada em que ele estava impedia que sua alma vagasse livre na umbra, mas todos os que se aproximavam sentiam-se observados, como se a qualquer momento um predador pudesse devora-los. Os fracos eram recomendados a manter-se longe, pois os apelos de socorro, e os pedidos de ajuda de Kitava poderiam leva-los a uma armadilha. Entretanto a prisão viria a falhar, quando a fome inconsolável a mudança física dele chegaram ao ápice, e como se fosse um cupim abrindo caminho ma madeira, Kitava cavou pela liberdade com unhas e dentes, engolindo solo e rocha. Quando finalmente estava livre, Kitava era nada mais do que uma aberração, seu corpo era amorfo, tomando toda e qualquer forma que quisesse, apenas mantendo-se pela regra da sobrevivência, adaptando-se ao que consumia.
Kitava aplacava sua fome com qualquer coisa, espíritos fracos, fortes, inumanos, animais, nem mesmo solo e construções eram páreos para sua fome, e rapidamente sua forma mudava, cada vez mais, como se fosse um amontoado de todas as suas presas. Não havia argumentação, nem qualquer traço de humanidade, era como se a ira de meus irmãos tivesse eliminado completamente moral e lógica de Kitava. Meus irmãos se uniram em uma batalha de titãs, monstros contra um monstro, e conseguiram fazê-lo recuar. Os efeitos da batalha foram percebidos pelos Karui, e a lenda se espalhou como fogo, o fim do mundo viria por Kitava, quando ele despertasse novamente, teria início o Gehenna.
- Abel / O Inocente