0. Prólogo de Sangue

- Essa é a única cidade, o resto é um monte de territórios diferentes, em alguns tem vilas, noutros só tem mato, ou pântano, ou montanhas. - Explicou Angel desligando o rádio e em poucos minutos dentro da cidade já parariam o carro em frente a um estabelecimento chamado "Red Rose". Sua arquitetura puxava mais para o barroco que para o gótico, sendo que todo o lugar era feito de pedras e tijolos trabalhados, com certeza da época em que tudo era feito em manufatura.

Pisha suspirou assim que saiu do carro, parecia irritada com algo. - Eu devia ter me banhado. - Comentou ela e Angel viu. - Eu estou na estalagem deles, pode usar o meu banheiro. - Ele se aproximaria dela deixando uma chave em suas mãos. - Shanoa eu já volto, cuide dela falastrão. - Diria a outra se afastando em direção a um conjunto de residências que ficava na mesma rua. Todas eram iguais e de arquitetura similar à do Bar, e numa segunda olhada se notaria que todo aquele quarteirão que ficava no fim da rua seguia esse estilo. - Vamos? - Indagaria Angel já seguindo para a porta do bar, e assim que esta fosse aberta a vampira veria um ambiente bem detalhado com objetos diversos, com destaque as luzes dos lustres que enfeitavam o mesmo, obras de arte modernas, uma mesa de sinuca e muitas pessoas dos mais variados tipos físicos, tons de pele e vestimentas, por volta de dezoito pessoas já eram visíveis só de se abrir a porta.

- Nos conhecemos fazem alguns anos, mas a Pisha é rabugenta desde antes. - Responderia ele logo que entrassem, e rapidamente uma loira de pele bem clara e olhos vermelhos se aproximaria eles. - Faz tempo que estou esperando Angel. - Diria a mulher, agora próxima poderiam-se notar um piercing no lábio inferior, uma argola no nariz e alargadores nas orelhas. - Oi Ida... - Falou Angel parecendo ficar sem graça, passando a mão direita atrás da nuca e remexendo seu cabelo. - Vejo que arrumou companhia rápido, prazer Ida Modliba. - Ela estenderia a mão para Shanoa num cumprimento simples. Ela vestia uma blusa preta, usava uma belíssima gargantilha com um grande rubi, e uma calça jeans escura, e botas de salto alto. - Já conseguiu o que precisamos? - Indagaria olhando para ele e cruzando os braços, selando os lábios carnudos e batendo de leve o pé no chão. - Consegui a cobra vai se assustar. - Respondeu a ela, e a loira sorriu com satisfação.

Ida a olhou torto por um momento com sua pergunta, até que Angel interveio. - Ela é a minha assistente, e é uma Neófita. Acabou de ser Abraçada praticamente. - Explicou ele colocando a mão no ombro de Shanoa. - Hum... - Murmurou a loira, a olhando de cima a baixo. - Vamos para a sala VIP, melhor não ter gente bisbilhotando enquanto conversamos. - Continuou ela já se afastando. - A Pisha está vindo, precisamos avisar ela onde estaremos. - Avisaria ele e nisso ela apenas continuaria andando, mas olharia por cima do ombro direito enquanto rebolava. - Você ainda cheira a colônia e couro novo, ela te encontra rapidinho. - A fala dele fez Angel desfazer o sorriso costumeiro e suspirar. - Se uma moça de cabelos castanhos, olhos claros, com tatuagens tribais no rosto e vestindo um vestido verde longo aparecer, pode avisar onde estamos? - Diria ele entregando dinheiro um garçom que passava por ali com uma bandeja vazia. - Certamente senhor Angel. - Diria o outro rapaz sorrindo e aceitando o dinheiro que prontamente colocava em seu bolso. Angel iria então na direção que a moça falara e rapidamente subiriam um lance de escadas e estaria n área VIP, onde a primeira sala à direita seria onde Ida os aguardava. A música ambiente era mais suave que a de fora, haviam assentos de veludo vermelho e a mesa retangular com seis cadeiras era de madeira trabalhada, mostrando um nível de qualidade bem acima das vistas lá em baixo. - Seu chefe não explicou o trabalho? - Indagaria Ida bebendo de uma taça de champanhe que estava servido à mesa com seis taças, estando as outras 5 vazias.

Shanoa apenas segue os dois que caminham pelo bar e iam em direção a um lugar mais privativo. E como não havia perdido seu interesse no estabelecimento, ainda continua a observar o cenário cheio de pessoas e com música animada. Subindo as escadas, logo percebe que o ambiente muda totalmente, transformando o som agitado em algo mais tranquilo e os móveis em objetos estilizadas e vibrantes com o tom de vermelho nas cadeiras. "Uau..." Obviamente, Shanoa se surpreende pela mudança súbita, entendendo que existem festas que se diferenciam uma das outras e que nem todos são capazes de participar, seja talvez por status ou talvez pelo dinheiro. Mas sua atenção logo se firma no questionamento que Ida faz a seguir quando a via se sentando em um dos assentos aveludados e bebendo algo aparentemente espumante. "Chefe?" Sem entender, apenas olha meio confusa para Angel, demonstrando interesse em tentar saber o que ela queria dizer com aquilo.

Musica Tema - Bar 3

- Sério? Amnésia? - Ida estava boquiaberta, mostrando um pouco de seus caninos, logo rindo na sequência. - Ela está falando das tatuagens, ainda não sabemos o que são, apesar de que desconfio serem algum tipo de runa ou glifo. - Explicou Pisha, olhando atenta para Shanoa e fazendo um breve gesto com a cabeça em negativa. - Eu nunca vi... Então estou na mesma... Musica legal, mas não tem nada com vocal? - Angel por sua vez bebia do champanhe sem dar muita importância aparentemente. - Deixa eu ver isso... Hum... - Ida prontamente de levantaria, dando a volta na mesa e olhando pensativa para as tatuagens da moça, chegando a colocar a mão no queixo e cerrar os lábios carnudos. - Não precisa ficar tensa querida, eu não gosto da mesma fruta que você. - Diria Ida a Pisha que estava inquieta, estreitando os olhos para a loira. Ida aproximou-se de Shanoa, tocando com a ponta dos dedos na tatuagem no centro de suas costas, e com isso teria um choque pelo corpo, ficando molenga e tendo que se segurar na cadeira dela para não cair. - Wow!! Que brisa forte!! - Exclamaria a loira rindo muito e olhando Shanoa de cima a baixo. - Tá tudo bem?! - Exclamaria Angel se levantando para ajudar Toreadora. - Tô bem garanhão, isso ai parece um tipo de Thai Sak Yant... - Ela então rumaria para onde estava sentada antes, sendo ajudada por Angel. - O que é isso? - Indagaria Pisha. - Sabe as minhas tatuagens, querida? Elas não são só pela arte, cada uma delas tem uma magia embutida, proteção, sorte, amor, por ai vai. As que ela tem parecem budistas da Tailândia, mas o design tá diferente, e com certeza a viagem delas é algo bem agressivo. Eu diria que são religiosas mesmo, talvez de alguma igreja, ou algo assim, só que eu não vejo uma dessas desde, sei lá, desde a Germânia, e olha que eu vivia mexendo com essas coisas quando era mais nova.

- Olha querida nos meus quase setecentos e trinta anos de vida eu trabalhei com todo tipo de runa e com glifos, realmente a pintura tailandesa foi uma das que mais me agradou em estilo. Eu acho que é algo relacionado a proteção, especialmente se for algo religioso, mas é esquisito... Vampiros não são, bem... O tipo de ser que teria isso, acho que caberia mais a algum templário, ou caçador... Pensando na falta de memória, pode ser que o seu Sire tenha te Abraçado só pra zoar com a sua cara, sem ofensa... Alguns vampiros fazem disso, Abraçam inimigos deles ou pessoas que são suas opositoras, só para ver o circo pegar fogo ou ensinar uma lição de humildade... - Ida não parecia querer ofender com suas palavras, falava de forma neutra, usando de um tom ameno em sua voz e voltando a bebericar a bebida. - Isso me passou pela cabeça... - Comentou Pisha pensativa e cabisbaixa. - Seu Sire não determina quem você é, lembra? - Falou Angel olhando Shanoa nos olhos.

Shanoa assente após ouvir toda a informação fornecida por Ida, compreendendo que idade representa um vasto conhecimento e que pouco poderia duvidar de alguém tão sábio. Entendendo que grande parte fazia sentido graças as conversas que teve com Pisha e Angel dentro da cripta e do carro, logo aceita que seu antigo ser faz parte de um grupo religioso. "Uma mulher de Deus..." Pensava ela enquanto fingia sorrir para a anfitriã, não sabendo se poderia ficar feliz ou triste com isso. — Como minha última pergunta para não tomar muito de seu tempo e seguirmos logo em direção ao covil da górgona que assola uma de suaspropriedades, gostaria de saber se essas tatuagens que estão inseridas em meu corpo são capazes de encontrar o caminho até os criadores da tal "arte"... Já que conseguiu identifica-las como uma obra de proteção de uma igreja budista tailandesa... Isso é possível? — Questiona ela, continuando com o assunto de interesse.

- Olha querida, eu fui com a sua cara, então considere isso um conselho de amiga... Saber de onde vieram essas tatuagens pode causar mais dor do que satisfação... O que dá poder a esse tipo de coisa não é só a tinta e os símbolos, mas a fé e a divindade de onde vem a crença... Seu Sire podia estar se vingando de uma inimiga, ou simplesmente queria roubar o poder dessas marcas... Eu aproveitaria essa amnésia como uma chance de recomeçar... Trabalhar com o bonitão pode até ser emocionante. - Ida respondeu depois de pousar a taça. - Shanoa, eu não sou do tipo que viaja com "amigos". E não tenho razões das mais especiais para acompanhar-te nisso, se é o que quer fazer. Se quiser estudar sabe onde me encontrar, mas eu não engajarei em lutas que não são minhas, venho fazendo isso desde sempre e não pretendo mudar. - Acrescentou Pisha com um tom neutro e uma expressão facial quase morta. - É... Parece que a festa acabou e começou o trabalho... Vou te explicar tudo o que sei, tudo o que aprendi nessa vida desde que comecei. - Falou Angel após virar a taça de uma vez só e se levantar. - Pense em Angel como sendo o seu Sire, será mais agradável que a maioria dos que conheço. - Disse Ida dando um xauzinho para Angel e mandando um beijo, que ele pegou com a mão e colocou no coração fazendo Ida rir.