Capítulo 1: Trabalho Extra

Era muito chato passar a noite sem fazer nada, e mesmo estando num quarto maior que o anterior e com menos cara de prisão, não eliminava o tédio. Estava deitado na cama de barriga pra cima, olhando o teto quando pegou o livro da morte e passou a folhá-lo. Nada como ler nomes riscados num livro grosso de capa dura? O melhor era lembrar-se de cada um deles, como se tivesse um álbum de fotos na cabeça. Mas o que mais o irritava era não lembrar daquela mulher e conseguir lembrar-se de seus alvos do trabalho. E aquela novidade sobre ser filho de Izanami então? Suspirou cansado fechando o livro fazendo o mesmo sumir, levantou-se. Já se passara metade da noite e a única coisa que tinha era ouvir a música dos grilos. Aproveitou a calmaria pra se exercitar antes do amanhecer e a rotina reiniciar. Sua cabeça estava uma confusão só, talvez voltasse ao normal ou descobrisse algo. O sol começaria a brilhar saindo por detrás das montanhas, tingindo o céu de laranja como se pegasse fogo. Parou o que fazia, estava suado, deu uma olhadela pela cortina e depois foi pro banheiro tomar uma ducha. Depois se sentaria na cama com o aparelho celular nas mãos esperando o contato de Reiko pra irem comer algo e fazer o trabalho. Ao menos sairia dali.

Permaneceu sentado na cama, quase como um objeto de decoração se não fosse sua respiração, e assim passou o tempo até a campainha tocar. A princípio não sabia o que era, porém com sua audição privilegiada ouviu alguém na porta. Assim que a abriu viu Reiko e a olhou um pouco surpreso, mas logo sorrindo. -Ohayo Reiko-san. -Disse num tom calmo, mas logo voltou a olhá-la ao ouvir sua pergunta. Como ela reparava tanto? Será que era tão perceptível? Ela estava diferente de alguma forma, parecia mais "viva" apesar dos olhos mortos de sempre e sua voz. Ela vestia roupa social branca, e diferente da noite anterior, estava mais certinha, como moça de lar. Pegou sua katana que estava em cima da mesa ao lado da porta e botou-a na cintura enquanto saia do quarto, ainda sem respondê-la. -Só a cicatriz que está incomodando. -Disse em resposta a sua pergunta. -Dormiu bem? Parece diferente. -Perguntou seguindo-a pelo corredor até chegarem num treco estranho inanimado de metal, mais uma daquelas tecnologias esquisitas... -Então estão de olho em você? -Perguntou sobre o telefone rastreado que comentou. -Que dinossauro de metal é esse? -Voltou a perguntar se aproximando lentamente, como se o carro fosse o devorar de alguma forma.

Ela explicava sobre sua mudança, era de fato impressionante. -Hum... Se não fosse a tecnologia o humano é um dos seres mais frágeis que existe... Certamente usam bem da inteligencia pra sobreviver, mas não acho muito esperto o que estão fazendo na Cadmus. -Comentou de forma neutra. -Pra tudo se tem equilíbrio... É umas das coisas que aprendi em meu trabalho. Os humanos tem muitos predadores, mas eles são como coelhos, se reproduzem em alta escala... -Disse antes de sua atenção ir para o carro. -Oh, então isso é o cavalo de hoje? -Deu uma batida de leve com o dedo dobrado ouvindo o metal ressoar e olhou pra Reiko assim que ela abriu uma aparente porta. Olhou pra dentro, tinham assentos como uma carroça fechada, mas mais confortável. -Hum... -Não gostava de lugares muito apertados como aquele, onde seria difícil uma luta, mas entrou e se sentou próximo da janela, esperando a porta se fechar sozinha. -Então, onde vai ser essa missão? -Perguntou curioso observando também tudo lá fora, já fazia um bom tempo que não saía.

-Ah, soo... -Disse enquanto uma mecha de cabelo dela se esticava até a porta e a fechava. -Sugee... -Olhava pra mecha seguindo-a até a dona. -Não deixo de me surpreender com suas capacidades Reiko-san. -Disse sorrindo enquanto ela começava a explicar o que seria o experimento. -Então vamos literalmente pra outro mundo? -Como eles tinham conseguido uma tecnologia tão poderosa a esse ponto? -Está me dizendo que Cadmus tem controle sobre outros mundos também? -Era um tanto assustadora aquela informação, mas haviam deixado chegar a esse ponto como? -Hum... são semelhantes à você, mas mais violentos. Deu pra entender. Você saberia reconhecê-los então? -O carro se movimentava, a paisagem era bonita, fazia tempo que não via nada muito diferente apesar de ainda estar dentro da Cadmus, porém começou a chover e em breve uma névoa começou a tomar conta da paisagem. Voltou a olha-la quando comentou do sexo e sorriu malicioso. -Então estava envergonhada? -Perguntou sorrindo apesar de saber que ela não estava. -Tentarei cooperar da melhor forma, mas não garanto me controlar a não matar meu alvo. -Terminou o comentário voltando a olhar pra janela.

Ela explicou como funcionava o mecanismo deles se reconhecerem, mas não sabia dizer se esses outros também emitiam tal som, ao menos algo bom saía dali, ela tinha uma foto de um alvo e pegou a foto que ela lhe estendia. -De fato parece um cara normal... -Comentou analisando também as feições dele. Parecia que não tinha aquele distúrbio de sentimentos que Reiko tinha. Do nada a paisagem ficou escura como se tivesse anoitecido, e quando olhou pela janela, viu estrelas passando, como se voassem próximos delas. -Uou! -Uma voz parecida com a de Reiko falou do banco da frente e assim que se mostrou, era Reiko ali também. -Foi disso que falou quando disse do motorista... -Disse numa afirmação enquanto via a outra se tornar uma massa e entrar de volta pro corpo da original. -Muito interessante. -Comentou ainda mais interessado naquela espécie. Nunca pensou ver algo do gênero, mas a natureza era cheia de surpresas. -Devo dizer que essa tecnologia da Cadmus é surpreendente... Você diz que não estamos sendo monitorados pela Cadmus? -Perguntaria interessado naquela resposta, pois queria fazer perguntas e não queria ter a empresa de ouvido. -Não vou sair correndo, só quero fazer algumas perguntas. -Explicou seu real motivo a olhando sério.

Reiko explicou como fazia aquela multiplicação, era mais interessante do que podia imaginar. Mas logo ela fez um comentário que ficou mais como uma dúvida. O que era menage? -O que seria isso? -Perguntou confuso com o que os humanos gostavam... Ela logo deixou claro que a Cadmus não estava vigiando ao querer saber da pergunta. -Quero saber se você sabe de alguém cujo o nome é Kutenai Otoya. -Disse direto, era o nome daquele suposto Shinigami que tocava violino e havia lhe convidado pra ter uma aliança.

Ela lhe respondia sua pergunta, mas parecia atenta por alguma razão. Então ele não era um shinigami, era outra coisa, muito provavelmente um vampiro ainda. -Ele está vivo. Essa empresa tem nome? -Diria aquilo sério, mas ainda haviam coisas que não batia. Teria que pensar mais naquilo, naquela proposta e tentar descobrir mais sobre ele e sobre Raito. Ela logo explicava também o que era aquela palavra estranha, até mesmo imitando um sorriso malicioso, uma imitação bem realista que me fez sorrir de volta. -Está melhorando pelo visto. -Comentou satisfeito com a demonstração maliciosa dela. Passou um braço sobre os ombros dela numa aproximação carinhosa. -Não se preocupe com o material genético, tem muito aqui. -Comentou rindo um pouco, mas ainda preocupado com tal informação sobre Otoya. -Você tem acesso às fichas de cada um imagino... Na minha por acaso tem alguma informação sobre meus pais? -Perguntaria voltando a ficar sério. Podia ser útil saber algumas coisas sobre Otoya, pro próximo encontro deles e pra montar sua resposta quanto à aliança dele.

Sorriu pro que Reiko dizia. -Não é Otoya que me incomoda, mas ele apareceu lá ontem, depois que você saiu... Ele está na minha cola a um bom tempo pelo que pude perceber, mas tudo o que ele quer é uma aliança comigo. Ele disse que minha mãe é Izanami, não sei o quão válida é essa informação, eu não lembro de ter tido uma mãe ou um pai, então... Não disse antes por pensar ser um risco pra você, mas vejo que é melhor você saber pra se estruturar melhor. -Respondeu sério olhando pra ela. -Ontem eu tive um lapso de memória sobre o dia em que ganhei essa cicatriz. -Começou a contar o que lembrou de fato. -Foi outro shinigami, mas não lembro seu nome. Ele falava algo sobre minha resposta em me unir à causa dele, e por causa de minha resposta, ele matou uma mulher. Eu... Não lembro dela, mas a raiva que senti, certamente era muito importante pra mim. -Deu uma breve pausa pra controlar aquela raiva súbita da lembrança. -Tentei atacá-lo, mas ele era muito mais forte que eu e me fez isso. Quando acordei já estava em Cadmus. -Revelei pra ela com os olhos brilhando mortalmente, queria matá-lo da pior forma possível e um dia faria. -Então ele certamente é da Cadmus e de fato ele conseguiu o que queria forçadamente. -Contou tudo esperando pela reação dela, ela poderia se afastar dele por achar ser perigoso continuar próxima como estava, não sabia, mas não a impediria daquilo, também não queria ser provocador de sua morte apesar de ser um Shinigami. -Desde a lembrança a cicatriz anda incomodando e tentando regenerar...