Capítulo 2 - Jogo de Cintura

- Shaka... Ele foi necessário... Sem ele teríamos sido dizimados pelos Garou e pelos europeus... Guerra na qual... Feri minha perna direita... - Disse o monge a princípio com pesar em suas palavras, e com sua pele demonstrando apenas a temperatura normal que devia de ter. - Ficarei feliz de contar alguns detalhes, desde que você decida ficar aqui. Nossos segredos não devem deixar Wakanda. Como também só devem ser oferecidos a iniciados de fato. - Continua ele na sequência, mantendo seus olhos castanhos escuros, ligados aos da mulata. - Como desconhecemos qualquer indício de um povo símio entre os metamorfos, sendo que até mesmo temos registros anciões M'Bembe de milênios atrás, que não dizem uma palavra sequer sobre primatas além dos humanos, obedecemos aos avisos dos ancestrais para nos manter afastados. Entretanto, um templo dedicado a algo assim, aqui em Wakanda, poderia indicar uma parte perdida da história dos Fera. Iremos atrás das vestes do Príncipe, sei que em breve meu filho, K'Uon, retornará com informações sobre o que o Ahadi decidiu. - Ele então se levantaria de onde estava, e nessa mesma hora o mensageiro e as acompanhantes Makunguru de J'Lamba chegariam até lá. - J'Lamba pediu que eu acompanha-se pessoalmente o estado do senhor Marques. - Avisou o mensageiro com o gesto do punho direito cerrado ao peito.

- Temos mais o que fazer que ser servas de uma forasteira... - Diria Adebanke de forma áspera. - Nêga, não podemos agir dessa maneira, sabe que temos que seguir a ordem do nosso líder, J'Lamba disse para ajudarmos. - Diria Badu em tom desaprovador para Adebanke. - Nossa missão foi garantir a segurança de Ximeerra enquanto estiver na cidade. - Contribuiu Chalondra também olhando em desaprovação para a revoltada. - Se me permitem dizer algo... - Seria então que uma voz misteriosa, masculina, surgiria como que do outro mundo. - Desculpem... Na Corte Esmeralda resolvemos tudo com certa diplomacia, mesmo quando nos desentendemos, não vejo mal algum em partilhar conhecimento com uma irmã Corax. - Seguido de um susto coletivo, que fez até mesmo Adebanke sacar facas que tinha escondidas em suas vestes, um jovem de trajes e armadura japoneses, surgiu de ponta cabeça no teto, com uma máscara de corvo e um frondoso par de asas negras. - Jovem Kagami, por favor evite de ficar assim tanto tempo, as pessoas ainda não se acostumaram com isso. - Diria Zuri um tanto abalado e com a mão livre ao coração. - Perdão... Hábito ruim... - Continuaria o jovem de armadura saltando do teto e pousando como uma pluma ao lado de Melena. - Se quiser posso ajudar com o rito... - Mal Kagami se prontificou a ajuda, Adebanke saiu em disparate proferindo vários xingamentos em Xhosa, uma língua africana. - Eu vou atrás dela, peço desculpas... - Diria Chalondra seguindo a outra. - Acho que só eu e o branquinho damos conta de ajudar. - Finalizaria Badu sem graça, já caminhando até Zuri. - Ajudarei na preparação dos ingredientes. - Eu ficarei com o senhor Marques. - Avisaria o mensageiro Ajaba.

Rapidamente Zuri trouxe oito moedas douradas, depois uma travessa de mel, uma vela amarela, um coco, e uma erva em forma de coração. Numa travessa ainda maior, ele depositou as moedas douradas, as cobrindo com o mel. Badu e Kagami prontamente começaram a reunir madeiras  de forma a fazer uma pequena fogueira ritualística. No momento seguinte, Zuri acendeu a fogueira e deixou o mel e as moedas aquecerem, à medida que Badu e Kagami traziam cada um um pequeno pote com água. Assim que eles despejaram a água na bacia maior, o som característico da água em contato com a superfície quente poderia ser ouvido. Zuri então acendeu a vela amarela em uma mão e com a outra segurou a folha em forma de coração. Abadala, bajonge inzala yenu, yibone umnikelo wabo, bamkele, bawuhloniphe, njengokuba bazukisa. - Diria Zuri queimando a folha com a vela e esta brilharia num tom arroxeado, enquanto suas cinzas caiam na bacia. Zuri havia dito "Ancestrais, olhem pelos seus Descendentes, vejam sua oferta, a recebam, e a honrem, assim como eles os honram", na língua Xhosa, uma das principais línguas africanas modernas, se não uma das mais faladas. Após isso Melena poderia sentir-se um tanto tonta, mas logo Kagami e Badu viriam ajuda-la, a colocando sentada ao chão de frente para onde o monge Zuri estava, repetindo constantemente a mesma prece de antes, num murmúrio quase que cantado.

Melena entraria no transe de forma pesada e veria à sua frente um gigantesco olho vermelho com aspecto felino e feminino. Melena veria então um mundo destruir-se à sua frente, um planeta engolido por chamas que vinham de seu interior, até o momento em que este explodiria por completo, tornando-se pó estelar. Um feixe de luz branca voava para longe desse planeta e vinha na direção da gaúcha, cegando-a. Assim que seus olhos se recuperassem do clarão ela se veria num frondoso templo com estátuas de metamorfos, todas as raças estavam representadas ali, não só conhecidas por ela, mas haviam até mesmo outros híbridos de animais e homens presentes. Metamorfos sapo, insetos variados, rinocerontes, macacos, etc. Seriam tantas estátuasx, e uma diferente da outra, cada uma com um animal metamorfo em forma de guerra, passando de duas dezenas de estátuas facilmente. Parecia uma espécie de templo invadido por uma floresta, com várias pilastras e paredes quebradas. Além disso havia uma espécie de torre no centro da estrutura, rodeada por uma escadaria e uma espécie de base retangular de grande porte, quase como um palco.

Voando pela torre, Melena encontraria uma linguagem antiga, quase faraônica, similar aos hieroglifos egípcios, porém quase que rupestre, ao mesmo tempo que parecia absurdamente trabalhado, como que feito com algum tipo de instrumento que queimava e pintava a pedra com precisão cirúrgica. Parecia um tipo de profecia, e seria um tanto perturbador lê-la.

Havia uma última palavra, um nome, porém a imagem estava danificada por intemperismos, impedindo seu entendimento.

Melena não saberia muito sobre o que se tratava a profecia ali, porém haveriam indícios que em sua memória distante aqueles eventos eram reais, tal qual uma memória literalmente genética, pela qual toda a raça dos metamorfos era conhecida, especialmente os Mokolé. Entretanto ao forçar uma conexão espiritual ali, ela veria uma múmia de pele azulada pela decomposição, ela governava como um Rei, com seus servos sendo ninguém menos que os mais variados metamorfos, sendo que alguns eram inclusive seus escravos. Esse reino fazia uso de tecnologia avançadíssima e manejavam uma união perfeita de magia e tecnologia. Depois de grandes três batalhas contra outros reis, a múmia era possuída por um poder maligno, provindo da Wyrm, e então reunindo três gemas místicas, tal Rei das Trevas planejava criar uma espada, uma manopla e um colar, com os quais iria reger indisputável o mundo. Com essa tarefa em mente ele invadiu um quarto reino, onde havia um metal dourado, capa de suportar o poder das gemas, porém lá ele encontrou grande resistência, sendo vencido por um povo que era formado por diversos metamorfos unidos sob uma mesma bandeira, apesar de sub-raças diferentes. Ele acabou sendo derrotado em combate por um Simba, que liderando o Reino de Ouro, selou a múmia em um sarcófago, e o enterrou para que perecesse. Despojado de seu trono, no entanto, o Rei começou a definhar e se seu corpo saíram máculas que começaram a profanar a terra. Em dias, vida deixava de existir, vulcões entravam em erupção, terremotos e maremotos assolavam as cidades, furacões violentos devastavam plantações e florestas. Em um mês, aquele mundo entrava em colapso pleno, explodindo em chamas, e naves de seus fugitivos, rumavam para outro lar, a Terra. Melena acordaria atarantada e confusa, de volta ao plano físico, onde poderia ver seu pai desperto e bem, sendo atendido pelos outros, enquanto que Kagami segurava a mão da gaúcha, olhando-a fixamente.

- Badu e Kagami, cuidem do senhor Graça, imediatamente... - Zuri levantou-se às pressas para a surpresa geral, indo até Melena que voltava à forma humana. - Eu apenas emprestei um pouco de suporte. - Disse Kagami levemente corado, mas com um tom de voz neutro. - Levaremos ele à enfermaria do palácio, poderá vê-lo assim que Zuri terminar seja o que quer que precise. - Diria Badu um tanto confusa, mas acatando a ordem do monge. - Venha comigo, por favor... - Zuri chamaria então Melena para que o quanto antes fosse com ele, e nisso Marques olharia apara a filha, acenando positivamente com a cabeça. - Você descreveu a exata história descrita o primeiro templo que descobrimos em Wakanda... A guerra contra o Rei das Trevas... Bem como a profecia com os sinais do seu retorno... - Conforme acompanhasse o monge, ela se veria indo para onde havia ocorrido no dia anterior o sepultamento de Ajani, o templo subterrâneo onde jazia a grande estátua da Deusa Bastet em sua forma de pantera. - Guardamos boa parte das descobertas do povo comum... Evidências de metamorfos antigos que viajavam entre planetas... Poderiam destruir a fé e levar muitos ao pânico... A fé é importante... Mas hoje nós os vemos como ancestrais sábios, dignos de respeito e fé... Nos espelhamos no que tiveram de bom a oferecer, em seu legado... A Espada dos Presságios... A Manopla Justiceira... O Olho de Gaia... Esses artefatos existem e estão selados em Wakanda... Eu empunhei o Olho de Jade, Ajani a espada e Kisasi a manopla... Nós três usamos seu poder para trazer à tona as relíquias dos habitantes de Thundera... Seus conhecimentos, sua história e sua tecnologia... Tememos que os ataques que estejam acontecendo, que a morte de Ajani, sejam os agentes da Wyrm nos cercando, buscando reviver seu Rei das Trevas... Príncipe T'Challa... Não... Rei T'Challa... Ele é forte, inteligente, espirituoso... Ele poderá enfrentar isso, mas ele e o povo ainda não estão prontos... Seja o que os Espíritos Sagrados tenham em mente, eles confiaram esse conhecimento a você... Arranjarei para que você vá o quanto antes ao Templo de Hanuman, pois lá poderá haver uma resposta para tudo... Mal sabem os humanos que suas crenças estranhas em alienígenas quase se justificam em relação ao Egito... - Finalizaria o monge suspirando pensativo, parado em frente à estátua da Deusa, curvando-se a ela na sequência. - O Rei das Trevas não pode despertar, ou Wakanda... Não... Todo o planeta sofrerá com isso... Não encontramos nos textos antigos a raça dele... Pode ser que ele seja um metamorfo desconhecido por nós, ou algo mais poderoso... A única certeza é o mal que ele trará... - Ele então se viraria para Melena, a encarando.