Capítulo 2 - O Conselho do Ahadi

Danai se afasta e um tempo depois N'Iala volta à sala, repassando o que fizera. - Parece que estamos sem nenhuma dica, de novo. Obrigado pro tudo N'Iala. Irei descansar, mas antes quero garantir a segurança delas. Boa noite. - Ele responderia após ouvir atento a ela e é claro após ler seu relatório. Não havia o que pudesse fazer, mas T'Challa queria continuar ali, tomando conta delas. - Boa noite... - Ele se aproximaria da mãe e da irmã, beijaria o rosto das duas e se afastaria. - Quero apenas Simba na guarda da sala, quero também que me avisem de imediato quer qualquer coisa ocorra. - Do lado de fora falaria a quem estivesse na guarda para fazer sua vontade. Estava cansado e iria direto a seus aposentos reais para tentar descansar, sentia os olhos pesados, a cabeça comprimida, precisava de uma noite de sono.

Ele tomou seu tempo para se banhar e trocar-se, com uma samba canção preta e uma camisa regata branca, até que alguém entreabriria a porta, pronunciando-se. - Pode entrar... - Responderia com um meio sorriso, vendo o mingau de aveia e leite, um misto quente e um copo se suco de maracujá, que eram trazidos por ela. - A verdade é que... Eu não consegui pensar em comida, mas se tivesse a oportunidade comeria um boi. - Riria brevemente enquanto olhava para ela com ternura. - Muito obrigado, não quis te fazer de serva, mas nesse momento era a única com quem eu poderia contar para não ser envenenado. - Explicaria já pegando a bandeja para comer o mingau. - Como se sente? - Indagaria entre as colheradas do mingau, saboreando-o com certa nostalgia da infância, fazendo-o dançar no interior de sua boca antes de mastiga-lo brevemente e engolir.

- Vamos ver, também não quero comer demais e passar mal. - Disse à medida que ia terminando o mingau, agora dando atenção ao sanduíche. - Muito obrigado, sério... Não posso imaginar o quanto é difícil pra você, mas quero ajudar como puder... - Sorriu para ela de forma sincera com a boca cheia mas os lábios fechados, após abocanhar o lanche, o que deixaria suas bochechas estufadas. - Está pálida, já comeu algo? - Indagou sério ao terminar de engolir a primeira parte da comida. - Estão melhorando espero, ainda não acordaram mas conseguimos aplicar os antídotos. - Prosseguiu comendo o sanduíche e explicando conforme mastigava e engolia. - Os ataques estão pessoais, eles querem me abalar, me enfraquecer... Não sei se é apenas pela figura de liderança que represento ou se tem mais... A única certeza é que precisamos impedi-los ou muitos vão sofrer... - Estava sério também, limpando a boca ao terminar o lanche e agora iria beber seu suco. - Parece que foi ontem que tudo o que nos preocupava eram os estudos, o trabalho na faculdade... - Quando terminou o suco sentia-se ainda mais exausto, como se a comida lhe desse sono a mais do que já sentia. - Eu amaria se você pudesse ficar aqui no meu quarto, mas eu não quero trazer problemas para nós. - Falaria após se espreguiçar. - Eu te levo ao seu quarto, aproveitamos e pedidos para reforçar a guarda para nós dois. - Tendo dito isso a acompanharia, despedindo-se dela na porta do quarto da moça com um beijo no rosto e um abraço carinhoso, e é claro após pedir aos guardas para montar vigília nos dois aposentos. Por fim seguiria ao seu quarto para o devido descanso.

Ele havia se despedido, sentia a saudade pesar, mas não apenas a saudade de Priya, mas um misto da saudade que tinha dela, com a saudade do pai, o receio de perder a mãe e a irmã, de que o reino mantido com o carinho e esforço de todos caísse. Assim que adormeceu a tristeza pesou, sentia as lágrimas no rosto, mas logo sentia mais que isso, um toque gentil lhe despertava em um campo vasto e ensolarado. Era Priya quem estava ali com roupas casuais, e ao lado dela Naomi, nenhuma parecia se importar com aq outra, ambas sorrindo, e logo se fariam presentes sua mãe e irmã. - Vocês estão bem!! - Quando ele exclamou se lançando às duas para abraça-las de uma só vez, mais pessoas surgiram, os líderes, B'Tumba, Danai, até mesmo seu pai e Bastet. Subitamente um rio se formaria onde estavam e ao redor de suas margens o campo crescia com flores e árvores. Ao se aproximar na água límpida ele veria seu reflexo, e nele um belo e charmoso Crinos Simba, sua forma que ele nunca antes havia aprendido a utilizar. - Omunye wami uqobo... (Meu outro eu) - Diria tocando a água e aos poucos veria o hominídio refletido nela e em seu próprio corpo a forma do Leão Guerreiro. Ele começaria a correr então, aos poucos tomando a forma de Felino, indo em direção ao horizonte e seguindo o rio, e bem ao longe veria o Templo de Tekhait. Ouvia ao longe as vozes de todos lhe dizendo para continuar e não desistir, que era seu destino e sua vocação.

O sono fora revigorante, por mais que despertasse bem mais cedo do que previa e suado, e por isso aconchegou-se na cama para descansar mais algumas horas. Assim que resolvesse se levantar para banhar-se a família lhe viria à mente e com isso iria rapidamente para a enfermaria, porém lá só havia uma guarda e esta o dizia uma notícia tão maravilhosa quanto o sonho da noite passada. - Isso é ótimo!! - Exclamaria abrupto, abraçando forte a guarda e rindo no processo, chegando a girar com ela abraçada a si antes de sair de lá correndo. - Umama!! Udade!! - Ele escancararia as portas do refeitório, chamando pelas duas na língua mãe, correndo para abraça-las apertado, primeiro Ramona e depois Shuri. - Eu temi tanto perder vocês... - Desabafaria em lágrimas de felicidade, juntando uma em cada braço num abraço triplo. - Priya!! Muito obrigado por tudo!! - Seria então que iria até a Nagah para abraça-la apertado, logo depois de dar-lhe um beijo estalado na boca, porém breve sem manter-se muito com os lábios colados. - Eu... Não sei se estou diferente... Tive outro sonho... Nesse todos me diziam para correr até o Templo de Tekhait e eu... Vi meu Crinos... Nunca cheguei a usa-lo... Nem aprendi de fato a mudar com ele... Mas no sonho eu Crinava e corria em direção ao horizonte, depois como Felino, e ai acordei quando estava quase no templo... - Falou encabulado naquele assunto, indo sentar-se ao seu lugar na mesa, chegando a rir sem graça por fim enquanto secava as lágrimas.

- Eu já tinha a intenção de voltar lá, o sonho apenas confirma esse desejo. Só espero não estar sonhando demais, nunca fui de ter visões ou premonições, mas desde que voltei da América... - Concordaria com a mãe, assentindo com a cabeça conforme montava seu prato. - Estou realmente feliz, quase esqueci dos problemas. - Continuou já começando a comer com certa pressa. - Sobre o templo, eu estava conseguindo traduzir as inscrições, mas acho que numa visita mais calma e com algum suporte posso conseguir uma leitura mais precisa. - Ele iria desacelerar o ritmo em que comia, ficando pensativo sobre as inscrições e o que havia lido, tentando se recordar das mesmas. - É bom ver que também está melhor, depois de ter tirado tanto veneno. - Olharia para a indiana com uma feição serena, mas um olhar de preocupação ainda. - Seria bom levarmos Zuri conosco ao templo, ele é estudioso das religiões de Wakanda, deve saber algo sobre o lugar e sobre a Deusa Tekhait. - Finalizou procedendo a comer, saboreando satisfatoriamente a comida.

A conversa e  a refeição iam normalmente, até que sua irmã ficou bicuda, o fazendo rir um pouco da situação. - Isso está até parecendo quando éramos crianças e o pai me levava para caçar ou pescar. - Comentou rindo mais um pouco da reação da irmã. - Seria com ter algumas das suas bugigangas para anotar as nossas descobertas e é claro poderíamos usar alguns dispositivos de segurança e comunicação de longa distância. - Sabia o ponto fraco da irmã e tentou manipula-la sorrindo para ela enquanto fazia sua proposta. - É claro que se achar chato irmos até o templo e ficarmos estudando as ruínas pode ficar aqui, fazendo companhia para a mãe, poso controlar a saudade da minha irmãzinha. - Continuou antes de voltar a comer, atento às reações da irmã. - Não vejo mal em um grupo pequeno, Zuri, Priya, eu, Danai e Shuri. - Acrescentaria após engolir mais um bocado da comida. - Não sei o quão sensitivo estou, mas espero estar ao menos próximo do meu pai... Não quero sacrificar ninguém... - Diria a primeira parte olhando para a mãe e a segunda para Priya antes de continuar a comer e assim que terminassem sairia da sala para fazer os preparativos da viagem.